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Central do Brasil


O pequeno distrito de Cruzeiro do Nordeste, da cidade de Sertânia, a 300 quilômetros do Recife, na encruzilhada entre a BR 232 e a 110, um dia se tornou Bom Jesus do Norte no filme Central do Brasil.

Nesse post do Reverso do Mundo, vamos contar como isso aconteceu:

Tudo começou entre 1996 e 97, quando apareceram pessoas diferentes na localidade. Tiraram umas fotos, falaram com um e outro e foram embora sem dar maiores explicações.

Algum tempo depois, reapareceram. Dessa vez em comboio.

Agora sim disseram o que vieram fazer naquele lugar:

Preparariam o povoado pra se tornar um dos cenários daquele que foi um dos mais premiados filmes do cinema brasileiro.

Lembranças de um grande set de cinema

Foram meses no meio de uma produção cinematográfica, onde tudo anda em ritmo acelerado, os prazos são apertados e as coisas têm de estar todas em seus lugares.

Quem nos guiou por esta viagem pelo tempo e as memórias foi Fred Francisco, que trabalha no posto às margens da estrada.

Ele, na época um garotinho de 11 anos, fez uma figuração no filme e recorda com detalhes as locações, as pessoas, contando com um aparente orgulho o que se passou no seu distrito.

Fred falou sobre o convívio com o diretor Walter Salles, o contato com Fernanda Montenegro e a amizade com Vinícius de Oliveira, o menino Josué do filme, que tem a mesma idade que ele.

Também nos mostrou os locais onde foram feitas várias cenas.

O monumento com o Pe. Cícero, onde acontece um importante diálogo, uma praça onde que foi montado um guichê de rodoviária, um salão de cabeleireiro e outras estruturas temporárias. A “casa 07” que serviu de camarins usados pelas pessoas do local e pela própria Fernanda Montenegro.



O lajedo onde foi feita uma cena cuja imagem correu o mundo aparecendo em materiais de divulgação, onde Dora, personagem de Fernanda Montenegro, acorda nos braços do menino após ter desmaiado na noite anterior.



A noite do Oscar e a fama passageira


No dia 3 de abril de 1998, o filme tem sua estreia nacional, com boa acolhida do público e de grande parte da crítica. Em dezembro do mesmo ano acontece a estreia na França e a partir daí, em outros países.

Em 1999 o filme concorreu ao Oscar de melhor “Filme Estrangeiro”  e Fernanda Montenegro, de Melhor Atriz.

Na noite da festa de entrega do prêmio, em Los Angeles, Estados Unidos, a população inteira, que somava naquela época 600 e poucos habitantes, se reuniu na frente de um telão montado no pátio do posto. Toda aquela gente, com velas acesas, exatamente como estavam em uma das cenas do filme, esperavam algo certamente inimaginável.

Os jornais do Recife, por exemplo, repercutiam a entrega do Oscar quase que como uma final de Copa do Mundo de futebol.

No entanto, o Oscar acabou não vindo.  Porém, tudo aquilo criou um grande frenesi na região.

As filmagens trouxeram um sucesso meteórico a Cruzeiro do Nordeste.

E Cruzeiro do Nordeste (não) virou Central do Brasil

O interesse “cinematográfico” pelo povoado foi, de fato, bastante passageiro.

A não ser que você tenha a sorte de encontrar alguém como o Fred do posto ou outra pessoa que possa te guiar e mostrar os locais do filme, vai ficar andando a esmo.

Muita coisa mudou de lugar e não existem indicações, placas com dizeres, nada.

Até houve tentativas de ativar o turismo por lá, entretanto, as iniciativas ficaram só nas ideias.

Um pequeno museu, algo como um memorial, com fotografias e algumas estruturas remanescentes chegou a ser projetado, porém, não saiu dos papeis.

Uns vereadores do município de Sertânia fizeram uma proposta pra mudar o nome do povoado pra homenagear o filme, no entanto, a iniciativa não vingou.

Além disso, até mesmo o dono do posto de gasolina chegou a batizar o estabelecimento com o nome “Central do Brasil”, mas logo ficou decepcionado e recolocou o nome anterior.

Várias melhorias chegaram no povoado: energia elétrica permanente, água encanada, por exemplo. Porém, as carências continuam sendo muito grandes.

Em suma, Cruzeiro do Nordeste é mais um povoado pacato, com pessoas simpáticas e acolhedoras.

Também é rota de passagem pra caminhoneiros, gente que viaja para Serra Talhada, para Alagoas, etc, assim como turistas que vão a Triunfo ou demais cidades do sertão nordestino.



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