Na zona rural do município de Condado, que fica na região da mata norte pernambucana, a 60 quilômetros do Recife, fica um recanto cheio de histórias: O engenho Uruaé.
Fundado em 1736 por Manoel Corrêa de Oliveira Andrade, o Uruaé conserva, em ótimo estado, aquilo que é chamado de “quadrilátero do açúcar”: Casa-grande, a Capela, Senzala e a chamada “moita”, que é o lugar onde se produzia o açúcar. Esta é a formação completa de um clássico engenho do Nordeste.
A “moita” e a Senzala
Atravessando um terreno gramado, chegamos à Senzala. Os escravos eram trazidos pra cá do Mercado da Ribeira, em Olinda.
Um dos cubículos da senzala é aberto e nele se encontram vários objetos como pilões, móveis bastante rústicos e pesados instrumentos de tortura.
Na frente da construção há um tronco. Era lá que os escravos eram amarrados e submetidos a brutal violência.
Ainda hoje, há correntes penduradas e, no chão ao redor, restos do que era um piso de pedras. Uma espécie de palanque macabro.
A Casa-grande e a capela
A capela do engenho é simples e não sofreu tantas modificações na sua estrutura básica ao longo do tempo.
É uma construção pequena, com uma torre baixa, um interior confortável, sem a complexidade dos templos barrocos do século XVIII e, ao mesmo tempo, com uma certa sofisticação.
Ela era ligada à Casa-grande por um corredor que depois foi demolido, por causa disso, o Uruaé não é tombado pelo Iphan.
Atualmente, os interessados podem alugar o local pra realização de batizados, casamentos, missas de formaturas e outras celebrações.
É comum também a capela e seus arredores, muito cheios de flores e plantas, fazerem parte de ensaios fotográficos, geralmente de noivos.
Também é na capela que a D. Eleonor reúne os visitantes, e, quando há grupos vindos de excursão, dá uma palestra contando a história do engenho, além de curiosidades da vida dos moradores dos tempos mais antigos.
A sede do Engenho Uruaé é simples, leve e arejada, com a cozinha, salas de visitas e banheiro no térreo e salas de estar e quartos no piso superior.
Há muitas Casas-grandes que são pesadas, truculentas, com escadarias frontais que mais parecem fortificações.
Aqui vemos espaços mais livres e o piso superior é mais compacto, com janelas menores. Isso dá um aspecto menos sisudo ao lugar.
Como a propriedade ainda é usada como moradia, e em função do desaparecimento de algumas peças por causa de cupins e outras interferências, há vários elementos da mobília foram, por assim dizer, atualizados, além das instalações elétricas e encanamentos.
Apesar disso, o que resta dá uma noção de como era a vida das famílias de senhores de engenho de séculos passados.
A entrada do visitante é permitida no interior do prédio em alguns cômodos. Podemos ver alguns exemplares de móveis, livros, lustres, obras de arte… etc.
Há um telefone, um dos primeiros dessa da região. Muitos castiçais, pequenos oratórios, bíblias, muitas referências à religiosidade, que sempre foi e continua sendo, uma força que exerce influência na vida das pessoas que vivem nas áreas rurais do interior das cidades brasileiras.
Os dormitórios da família têm algumas curiosidades. Neles, o quarto das filhas era conjugado com o dos pais e havia uma porta dividindo os cômodos. Ela só era aberta por fora, ou seja, as meninas eram colocadas lá e não poderiam sair.
Um morador conhecido
O Conselheiro João Alfredo viveu nesse engenho durante a infância e juventude. Uruaé foi uma das propriedades de seu pai.
João Alfredo foi um político que ocupou vários cargos, entre eles o de presidente das províncias do Pará e de São Paulo, (algo que equivale hoje a governador de estado) e, em 1888, presidiu o gabinete de ministros do Império. (cargo equivalente ao de Primeiro-Ministro)
Ele foi um contemporâneio de outros personagens históricos como Joaquim Nabuco e José do Patrocínio.
Muito bem cuidado, cheio de verde, amplo e com muita história pra ser contada, o Uruaé pode ser uma boa opção pra quem curte unir conhecimento histórico e turismo rural.
Como chegar ao Engenho Uruaé e + informações:
O Uruaé está situado entre os municípios de Goiana e Condado, na rodovia estadual PE 075. Pra chegar lá, desde o Recife, vá pela BR 101 sentido norte e acesse a PE 075 estrada para Caricé e Itambé, à esquerda, depois do viaduto de acesso a Goiana. Da 101 até o engenho são 12,5 KM
A partir de João Pessoa, são pouco mais de 70 KM: 8 quilômetros após a divisa PE / PB, na entrada da cidade de Goiana, siga pela PE 075, à sua direita.
Ocasionalmente, o SESC, assim como outras instituições, como escolas, associações de classes, etc… organizam passeios que podem incluir o Engenho Uruaé no roteiro. Mas não há um programa permanente de visitação ao local.
Para uma visita, entre em contato com Eleonor Rabelo, pelo telefone: 81 99714-2555.
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Post feito em parceria com Rafael Gustavo.
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