A Praça Chora Menino fica no bairro do Paissandu, Recife. O entorno é bastante urbanizado, com prédios residenciais e comerciais, avenidas e um volumoso tráfego de veículos.
Mas nem sempre foi assim. Até o começo do século XX, essa região era um subúrbio da capital. Haviam sítios e muito terreno alagadiço, onde não tinha tanta urbanização.
No entanto, o bairro foi palco de acontecimentos históricos, e, dizem muitos, sobrenaturais.
Um dos primeiros projetos de Burle Marx
A praça está entre as primeiras obras de paisagismo feitas no Recife por Roberto Burle Marx, quando ele ocupou o cargo de Diretor de Parques e Jardins do Departamento de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco, nos anos 1930.
Foi um período em que o jovem Burle Marx comandou a organização de vários espaços públicos. O primeiro deles, em 1934, foi a Praça de Casa Forte.
Um lugar de passagem
O clima na praça é agradável, apesar do movimento constante de carros. Porém, não é um lugar onde o recifense vai com a família para passear e tirar fotos.
Há bancos onde se pode descansar, canteiros com passeios na parte central e há um jovem Baobá, essa grande árvore que pode alcançar alturas e proporções colossais.
Aqui e ali alguma mãe com criança pequena, alguém num dos bancos pensando na vida, realmente, você não vai ver excursões com turistas por lá. É um lugar de passagem.
Existem bares, comércio, muitos hospitais e clínicas que compõem o polo médico de Recife. Mas, até pelo seu próprio traçado, ela fica entre avenidas, ou seja, é um daqueles lugares onde as pessoas passam mas não permanecerem.
Então, o que há de diferente nessa praça?
Uma revolta militar e tudo que aconteceu depois deram uma fama de lugar mal assombrado à Praça. A começar pelo seu nome.
Mas o que é que justifica essa tal fama?
Vamos retornar no tempo até o ano de 1831. Essa foi uma época conturbada no Brasil, pois foi nesse ano que o imperador D. Pedro I abdica do trono e se retira do país.
Em Pernambuco… Bom, praticamente toda a primeira metade do século XIX foi de rebeliões e conflitos. A Revolução Pernambucana de 1817, a Confederação do Equador, em 1824, entre outras…
Mas o que aconteceu em 1831 foi diferente das outras crises. Não estamos falando aqui em revoltas com o objetivo de se separar do Brasil e nem de reivindicação por um governo republicano, mas de um levante de dois batalhões do exército.
Um violento levante militar
O movimento que ficou conhecido como “Setembrizada” por ter acontecido em setembro, foi composto por soldados que estavam insatisfeitos com o tratamento que recebiam dos seus superiores hierárquicos e do próprio governo da então província de Pernambuco.
Após alguns planos, nas duas primeiras semanas do mês, os insubordinados saíram às ruas da capital pernambucana em 13 de setembro.
As forças leais ao governo não tiveram lá grandes dificuldades em derrotá-los, tanto é que o levante durou apenas 4 dias. No dia 16 de setembro, as coisas já tinham sido controladas,
Porém, segundo alguns pesquisadores, esses insubordinados agiram de forma muito cruel. O que mais marcou a ação desses grupos foi a violência contra a cidade.
Eles não pensavam duas vezes antes de matar a população civil. Fossem homens, mulheres ou até crianças e também saquearam e destruiram casas e estabelecimentos comerciais.
Alguns falam em 400 ou até 500 mortos. Uma quantidade gigantesca pra poucos dias numa cidade no século XIX que não tinha nem 100 mil habitantes.
Muitas vítimas dos revoltosos foram levadas pra um local que na época ficava fora do perímetro urbano da cidade, um descampado dentro de um sítio chamado Mondego. Entre essas vítimas, muitas e muitas crianças.
Tanto que o espaço, depois da Setembrizada, passou a ser conhecido como “Chora Menino”. Isso seria pra não deixar de lembrar as vítimas das “artimanhas dos liberais (…) desses que tem sido a causa de intempestivas revoluções, dando lugar a se derramar o sangue brasileiro, a despeito de todas as leis divinas e humanas”, como escreveu um periódico em 1843.
As histórias de assombrações
Conta-se que quem passava por ali ouvia gritos e choros histéricos de crianças. Pela noite então é que as pessoas morriam de medo de atravessar a área.
Mesmo com o passar do tempo e o lugar ficando mais movimentado, mais inserido na vida cotidiana da cidade, muita gente evitava o Chora Menino.
Até chegou-se a dizer que os barulhos seriam dos sapos e aves que se abrigavam no sítio. Mas não tinha jeito. A crença nas “coisas do além” sempre foi mais forte.
Quando houve um plano de urbanização da área, Burle Marx foi responsável pelo projeto paisagístico justamente daquele trecho do antigo descampado do Sítio do Mondego.
Então surgiu a Praça Chora Menino
Ainda hoje há quem acredite nas histórias de assombrações. Mas não há o que temer, o lugar é bastante movimentado, existem até mesmo bares e restaurantes ao redor. Se não é assim o ponto mais concorrido do Recife, pelo menos é um pedaço importante da nossa história.
Referências históricas: Clécia Maria da Silva – Setembrizada: Um olhar sobre a disciplinarização e
a resistência militar no Recife oitocentista. VI Simpósio Nacional de História Cultural – UFPI.
Chora Menino: A história por trás da assombração – Diário de Pernambuco
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