Na rua Sete de Setembro, Sítio Histórico de Olinda, próximo à Praça da Preguiça e o Sítio de Seu Reis, que já visitamos aqui no Reverso, há um casarão que logo atrai os olhares pelo seu vermelho vivo.
Esse local acabou se tornando um ponto turístico por acidente. Não é um museu, nem tem um restaurante, nem sequer um dos inúmeros ateliês da cidade alta.
Porém, é a fonte de uma lenda urbana que já foi tão massificada que muita gente local e até mesmo os guias de turismo repetem:
A história de que uma das moradas de Maurício de Nassau teria sido aqui.
Nassau e suas residências
Nassau era um conde alemão que foi contratado pela Companhia das Índias Ocidentais e se tornou o governador das possessões holandesas no Brasil.
Em 1637, desembarcou no Recife e foi o responsável por melhorias urbanas na cidade. Mandou construir a primeira ponte de grande extensão do Brasil e também seus dois palácios.
O primeiro palácio, de nome Friburgo, ficou pronto em 1642 e era o local de despachos e demais trabalhos de Nassau. O outro, o da Boa Vista, foi inaugurado no ano seguinte e servia para descanso do conde.
O palácio de trabalho de Nassau era onde hoje fica a Praça da República, o outro fica nas imediações de onde hoje é uma basílica de Nossa Senhora do Carmo. Ambos na região central do Recife.
Entre a sua chegada e o dia em que mudou-se para os palácios, Nassau morou de forma provisória num sobrado onde hoje é a Rua do Imperador, no bairro recifense de Santo Antônio, perto de uma das cabeceiras da ponte que na altura estava sendo construída.
A casa do Sítio Histórico de Olinda
O Casarão olindense, em estilo neogótico, com detalhes em madeira e ferro, realmente é muito belo e imponente.
Há um balcão que remete aos terraços mouriscos, com persianas de madeira entrelaçadas e janelas com as pontas em forma de ogiva que dão o tom gótico da construção.
Há algumas adaptações colocadas já no século XX, como as instalações elétricas e encanamento.
Do lado de fora, podemos ver telhados com forro de metal, assim como extintores de incêndio que são uma medida de segurança pra época do Carnaval, quando o Casarão é alugado para festas.
Finalmente, Nassau teria morado aqui?
Tudo muito bonito e amplo. Bem que Maurício de Nassau até poderia ter morado por aqui mesmo.
Mas não, isso nunca aconteceu.
E por uma razão muito simples: O casarão simplesmente não existia na época em que ele esteve em Pernambuco. Foi construído no século XIX, mais de 100 anos depois da morte do administrador germânico.
É possível que ele até tenha passado por Olinda, pois alguns membros destacados de sua comitiva, como o pintor Franz Post, retrataram as paisagens da região a partir das colinas da cidade.
Mas Nassau nunca morou em Olinda.
Nem havia como. Os batavos saquearam e puseram fogo na “Marim dos Caetés” em 1631, em seguida se instalaram em Recife.
Olinda não interessava aos invasores pela sua localização e também por que ficaria muito caro mantê-la numa situação de constantes conflitos com os luso-brasileiros.
O porquê da lenda da casa onde Maurício de Nassau não morou
Na primeira metade do século XX, Olinda começava a despertar interesse de gente que vinha do Recife pra ir à praia.
Era um tempo em que frequentar a praia dos Milagres e do Carmo era um charme. Ricos comerciantes construíram mansões em áreas próximas. Uma primeira onda de turismo de classe alta começou a acontecer na cidade.
Porém havia, como sempre houve, muita pobreza em Olinda. Adolescentes pediam esmolas e andavam pelas ruas. Então os carmelitas tiveram a ideia de treinar os jovens pra trabalharem como guias turísticos.
Não se sabe quem teve a ideia, mas conta-se que alguns desses padres, por borla ou outro interesse qualquer, instruiu esses jovens a contar para os turistas que aquele casarão vermelho, que se destacava ainda mais numa época em que havia menos construções ao seu redor, tinha sido uma das residências do conde Maurício de Nassau.
E assim começou a lenda do casarão vermelho. A casa onde Maurício de Nassau não morou.
O local é privado e não está aberto a visitação pública, é apenas um ponto turístico “acidental”, desse modo, Reverso do Mundo não se responsabiliza pela administração do espaço e nem tem ligações com seus donos. As fotos foram todas tiradas da rua em frente e dos lados.
Referências:
Eliane Maria Vasconcelos do Nascimento – Olinda: Uma leitura histórica e psicanalítica da memória sobre a cidade – Universidade Federal da Bahia. 2008
DOBBIN, Elizabeth. Maurício de Nassau. Fundaj, Recife. 2009. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>.
Comentários
Postar um comentário