São Bento é um povoado de Maragogi, cidade famosa por suas praias belíssimas e os mergulhos nas piscinas naturais.
Nesse post do Reverso, teremos um encontro com uma parte menos conhecida da região conhecida como “O Caribe Brasileiro”: as ruínas que contam histórias de um passado cheio de mistérios.
Para chegar no local onde ficam as ruínas, pegamos a Rodovia Estadual AL 001, em direção a Japaratinga, ao sul. Após uma placa com a indicação do povoado, entramos à direita. Há uma ladeira com calçamento e um trecho de terra, que no verão, é seco e não oferece nenhum perigo.
O povoado vem desde a beira da praia até o alto de uma colina. Lá de cima, temos uma visão bastante ampla da praia.
Nos arredores também há muita beleza, convivendo com uma comunidade que ainda vive basicamente da pesca e da cata de mariscos, assim como seus antepassados.
O mistério sobre a construção da igreja
Os restos da igreja de São Bento causam impacto no primeiro olhar, aquelas ruínas parecem querer contar a sua história.
Porém, ainda se sabe pouco sobre ela. Ninguém tem conhecimento, por exemplo, sobre em que ano e por quem o prédio foi construído.
Algumas fontes dizem que a igreja foi feita em cima da estrutura de um mercado cujo dono era um francês, talvez algum deles que tenha fugido dos bandos de corsários que teriam invadido a costa do Nordeste no final do século XVI.
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Uma imagem que pode ser vista na placa do Iphan, junto das ruínas, indica que o templo já aparecia em mapas feitos no ano de 1643, pelo cientista alemão Marcgraf, que veio com os holandeses, na comitiva de Maurício de Nassau.
Existe ainda uma outra versão, essa repetida por muitos moradores mais velhos do povoado: é que a igreja teria sido construída por um retirante que veio do sertão, isso ainda no século XVII.
Ao conseguir se estabelecer no povoado, ele mandou erguer uma capela em agradecimento a São Bento e essa capela seria depois ampliada, chegando à configuração que teve até desmoronar.
Existem essas e outras versões sobre as origens do templo. Ainda há vários segredos a desvendar pra se chegar a uma conclusão.
Ruínas e a memória afetiva do povo em Santo Bento de Maragogi
Há também muitos relatos dos moradores mais idosos, já com seus 80 e poucos anos, que chegaram a ver o tempo ainda inteiro.
Havia missas, festas de santos, eventos variados, até paqueras e namoros que acabaram em casamentos celebrados na própria igreja. Afinal, ela era o centro da vida social do povoado (aliás, como acontece ainda hoje em grande parte do interior do Brasil).
O abandono da igreja
No comecinho da década de 1970, o edifício começou a apresentar rachaduras nas paredes e infiltrações que comprometiam a estrutura.
Não sabemos os motivos, mas parece não ter havido reformas, nem manutenção e o templo não era tombado.
A comunidade então passou a frequentar a matriz de Santo Antônio, na sede do município e uma nova igreja foi construída mais perto da praia, ali mesmo no povoado.
O que a gente vê hoje são as ruínas de altares, nichos, corredores e arcos feitos com tijolos de barro.
Percebemos que existem pedras que parecem muito terem sido trazidas do mar pra a construção das paredes, pois elas têm uma aparência de corais.
O lugar, embora em pedaços, não é sujo. Pelo menos durante a nossa passagem, não vimos dejetos nem cheiros fortes ou desagradáveis. Tudo são restos do que um dia pode ter sido um lugar bastante movimentado.
Histórias de botijas escondidas e um cemitério usado até hoje
Numa área ao lado das paredes mais altas, está um cemitério — Até o final do século XIX, cemitérios públicos eram raros no Brasil e apenas sacerdotes, grandes autoridades, e os membros das irmandades, (aquelas pessoas que não fazem parte do clero, mas se reuniam em associações pra promover atividades religiosas), podiam ser enterradas.
Ainda há movimentação entre os restos da igreja. Devotos vão prestar homenagem aos seus antepassados, acender velas pros seus santos. No mesmo cemitério onde há tumbas antigas, há também outras com datas recentes.
Uma curiosidade é que em 2004, técnicos da companhia de água e esgoto de Alagoas fizeram escavações para instalações de saneamento em Maragogi e descobriram botijas, o que atiçou a imaginação de “caçadores de tesouros” que achavam que poderiam encontrar ouro nas ruínas.
Tentativas de redescobertas
Em 2013 foi montada uma “força-tarefa” composta por arqueólogos, historiadores, arquitetos e até médicos, pra fazer levantamentos e coleta de materiais etentar descobrir a história real da construção da igreja.
Passeando entre as ruínas, observando os resquícios da memória do povo, a gente fica com várias indagações na cabeça…
Por que a igreja chegou a esse estado e desabou? Não houve interesse nem condições de restaurá-la?
Enfim, são perguntas que talvez mais estudos poderiam responder. A colina em São Bento de Maragogi é um lugar enigmático, cheio de histórias e que vale uma visita.
Se você for a Maragogi e quiser ter uma experiência bem diferente das piscinas naturais e praias, esse é um lugar que certamente você vai gostar.
O Reverso do Mundo não se responsabiliza por horários de abertura ou eventuais fechamentos do local para reformas ou intervenções para pesquisas. Fomos como visitantes, não temos ligação com prefeituras nem outras entidades.
Referências históricas : Revista Tempo Histórico. Vol. 4 – Nº 1 – 2012 “ENTRE TEMPOS DO OUTEIRO E TEMPOS DA PRAIA:
Identidades e patrimônios em São Bento – AL” por: Marcelo Góes Tavares
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